Administração Pública

Paulinho Serra: bom de
voto e ruim de governo (11)

  DANIEL LIMA - 20/03/2024

A leitura da análise que segue logo abaixo é um convite sempre atual ao que seguramente é um despreparo, caso não seja uma deliberada execução de fake news oficial, envolvendo o prefeito de Santo André. Embora afirme que seja bacharel em Economia, Paulinho Serra demonstrou com o que efetivou em 2018 o quanto tem dificuldades de conciliar conhecimento numa atividade que é a base do desenvolvimento de uma sociedade.

Explico em detalhes como não é possível segurar as pontas do comedimento crítico diante de algo tão surreal com que Paulinho Serra contemplou os consumidores de informação.

Paulinho Serra projetou o crescimento anual do PIB de Santo André de um ano para outro em 10% somente por conta da chegada (ainda não consumada) de um entreposto de hortifrutis.

Acompanhem e vejam o tamanho da encrenca em que se meteria uma gestão caso as declarações do prefeito fossem submetidas a uma espécie de Código de Responsabilidade Social dos Agentes Públicos. 

Chineses podem sequestrar a

genialidade de Paulinho Serra

 DANIEL LIMA - 27/09/2021 

O prefeito Paulinho Serra precisa redobrar a segurança. Tucano em vias de se bandear às pretensões eleitorais da coalizão formada por Geraldo Alckmin, Gilberto Kassab e Paulo Skaf, Paulinho Serra corre o risco de ser sequestrado por chineses que o querem em substituição ao presidente-ditador Xi Jinping que, dizem as más línguas, já deu o que tinha de dar com a revolução socialista em forma de capitalismo de Estado.  

O que causa o interesse dos chineses é a promessa de que o PIB de Santo André vai crescer 10% no ano em que for inaugurada a Nova Ceasa ABC, uma miniatura da Ceagesp da Capital.  

O mais recomendável mesmo, diante da improvável aventura chinesa, é que usem uma camisa de força em Paulinho Serra. Ele endoidou de vez.  

12 VEZES MÉDIA DO SÉCULO 

O que significa em termos numérico-históricos o que o prefeito de Santo André sugeriu no discurso para lá de enganador diante de uma plateia mirrada? Dez por cento numa cacetada apenas é mais que 12 vezes mais que o crescimento médio do PIB Geral de Santo André neste século, contando-se a partir de 2000 e chegando a 2018. Isso mesmo: 12 vezes mais, pois a média anual no período é de 0,83%.  

Para encurtar a distância entre o que Paulinho Serra anunciou ao projetar o futuro da Nova Ceasa ABC e a realidade dos fatos, basta dizer que o adicional de PIB que Santo André usufruiria com a concessão do empreendimento é praticamente o tamanho do PIB Geral de Ribeirão Pires. Ou 18% do PIB de Serviços de Santo André. Ou metade do PIB Industrial de Santo André.  

Burro é o prefeito de Ribeirão Pires, Clovis Volpi, que deixou Paulinho Serra lhe retirar o pão da boca de dobrar o PIB num passe de mágica, ou de mercadorias hortifrutigranjeiras.  

PARA QUÊ INDÚSTRIA?  

A Ceasa de Santo André, como se vê, é uma fonte de recuperação econômica que poderia, fosse verdadeira, ser rebocada a outros municípios. Não há nada que gere mais riqueza do que um centro de abastecimento de frutas, verduras, legumes, grãos e o escambau – sempre segundo a ótica de um prefeito miraculoso.  

A teoria de especialistas é, portanto, um barco furado. Para quê indústria? Para quê endereços tecnologicamente avançados? Disque Paulinho Serra e está tudo resolvido.   

Uma pena que o mundo da bola de milionários não seja transposto à Administração Pública. Já imaginaram quanto valeria o que antigamente se chamava atestado liberatório de Paulinho Serra? Um gestor com visão de futuro tão fértil tornaria Messi e companhia miudezas milionárias.   

Quem tem algum conhecimento de Economia sabe que se trata de uma declaração que só não é estúpida no sentido mais pejorativo da palavra porque é muito mais que isso. É difícil de acreditar que o prefeito Paulinho Serra, tão cercado de gente esperta, seja mesmo estúpido. É na verdade uma declaração de ignorância econômica monumental associada a proselitismo político-eleitoral de quem tem certeza de que a sociedade consumidora de informação no Grande ABC não passa de um bando de incautos.   

LEGISLATIVO SERVIL  

É impossível manter linguagem diplomática quando a indignação faz parte do sentimento de solidariedade às perdas históricas de Santo André e uma suposta liderança política mergulha nas águas fétidas da embromação.  

Paulinho Serra teria de passar por uma comissão de ética se Santo não fosse terra de ninguém. Suas declarações são tão nocivas e corrosivas quanto a de gente despudorada do setor imobiliário que segue a vender ilusão sobre a valorização de ativos. Uma catilinária que lubrifica a sanha arrecadatória do IPTU, adotada pela gestão do titular do Paço de Santo André com a aprovação de novas e extorsivas alíquotas num piscar de olho de safadezas do Legislativo sempre disponível aos negócios. 

SOLUIÇÃO ECONÔMICA?  

Como tenho por norma repassar integralmente ou o mais essencial sobre determinadas notícias que espantam até quem já morreu, vejam então os leitores o que está publicado no Diário do Grande ABC do último sábado, na manchete da página de Economia, sob o título “Sto. André estima PIB 10% maior com a Nova Ceasa”: 

 O projeto para ampliação e modernização da Ceasa (Central de Abastecimento de Santo André), do qual surgirá a Nova Ceasa ABC, já desponta como importante ferramenta para alavancar a economia do município, conforma avaliação feita ontem pela manhã pelo prefeito Paulo Serra (PSDB), durante apresentação do empreendimento, localizado na Avenida dos Estados. A estimativa do chefe do Executivo é a de que após a entrega da obra e início das atividades comerciais – dentro de aproximadamente dois anos e meio – Santo André deverá ter aumento de 10% no PIB (Produto Interno Bruto), elevando a geração de riqueza do município a cerca de R$ 29 bilhões – o último dado, de 2018, mostrava que eram R$ 27 milhões. Conforme o que está no projeto, sob responsabilidade do consórcio formado por três empresas, que fará também a gestão do empreendimento, o complexo contará com a nova central de abastecimento, mercado municipal e um centro de compras, reunindo gastronomia e lazer. Atualmente, a Ceasa conta com 66 boxes de hortifrutigranjeiros, que atendem, entre outros, mercados, quitandas, bares e restaurantes. Número que aumentará para 216.  

MAIS CEASA 

 “É um momento especial, que representa uma virada em nosso comércio atacadista. Por muitos anos, nossa Ceasa ficou praticamente paralisada, porque o mix de produtos deixa a desejar, e com isso temos déficit de clientes. Isso será corrigido com a nova Ceasa, que vai modificar o sistema e fazer a setorização de boxes e amplificação a oferta de produtos. Será um diferencial e tornará a central mais atrativa para comerciantes do Grande ABC, Zona Leste de São Paulo e da Baixada Santista, que abrigam cerca de 4,5 milhões de pessoas”, detalha Reinaldo Messias, superintendente da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), que administrativa a Ceasa. 

CAFU NA PARADA  

A reportagem do Diário do Grande ABC da edição de sábado também revelou que à cerimônia de lançamento do projeto o lateral-direito Cafu, do São Paulo de outros tempos e também da Seleção Brasileira do passado, foi anunciado como embaixador da empreitada. Um craque econômico à altura do prefeito que precisa mesmo ser protegido da ambição dos chineses, recordistas de crescimento do PIB nos últimos 30 anos.  

É mais que impactante, é estonteante, ler as declarações de Paulinho Serra. E também as ouvir nas redes sociais. Fico a imaginar de que fonte mais que suspeita o titular do Paço de Santo André teria tirado o número mágico de 10% de crescimento do PIB. 

Dez por cento de crescimento no PIB de 2024 significará resultado final de aumento líquido, descontada a inflação. O cálculo obedecerá à seguinte regra: pegue o PIB Geral de Santo André de 2023 e acrescente a inflação e mais 10%. Se quiser fazer a projeção a partir do PIB Geral de 2018, que está aí em cima, é fácil. Faça de conta que o empreendimento já está no mercado.  

MILHARES DE EMPREGOS 

Se os chineses que tanto cresceram ao longo de décadas já não conseguem avançar 10% nestes tempos, com todo o peso de diferentes atividades econômicas, como Santo André crescerá 10% em se levando em conta exclusivamente o peso da Ceasa que, entre outras aberrações, não terá como ser rastreado a ponto de ser detectado com segurança.  

Não existe força de tração capaz de tamanho milagre nem mesmo quando se consideram todos as atividades econômicas e suas ramificações, em comércio, serviços, administração pública, mercado imobiliário e agropecuária.   

O anúncio da Prefeitura de Santo André em combinação com o consórcio de empresas responsáveis pela Ceasa diz também que serão contratados cinco mil trabalhadores diretos e 20 mil indiretos. Nada mais fora do lugar, também. A Ceagesp original, na Capital, é 10 vezes maior que a Ceasinha de Santo André projetada na Avenida do Estado e conta com 25 mil empregos diretos e 50 mil indiretos.  

NÚMEROS DO PIB  

O PIB dos Municípios do Brasil mais atualizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta para a temporada de 2018. Santo André registrou PIB Geral de R$ 28.994.686 bilhões. Dez por cento disso representaria acréscimo líquido de R$ 2.899.468 bilhões. Uma caminhada impossível. Seria praticamente 18% do PIB de Serviços. O PIB de Serviços de Santo André registrou R$ 16.397.666 bilhões em 2018. E a influência relativa da Ceasinha no confronto com o PIB Industrial daquela mesma temporada, de R$6.168.513 bilhões, corresponderia a metade de tudo que sair de todas as fábricas.  

Trocando em miúdos: a Ceasinha, de baixíssimo valor adicionado nas relações comerciais, teria de acrescentar ao PIB Geral de Santo André exatamente a metade da massa da indústria de transformação. Não é nada impossível, claro. É impraticável. Exceto se Paulinho Serra descobriu o pó de pirlimpimpim que despertaria a cobiça dos chineses como fórmula mágica de novo período de crescimento monumental, já que na últimas temporadas, antes da pandemia, não passou de 6%.

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